Avaliamos o smart trainer portátil Cycplus T2
Do Bikemagazine Texto e imagens de Gabriel Vargas O Cycplus T2 é um smart trainer – rolo de treinamento digital totalmente interativo – do tipo direct drive, em que a bike vai acoplada diretamente no rolo, removendo a roda traseira. O Bikemagazine recebeu uma unidade para avaliação diretamente do fabricante, que não tem representação ou […]

Do Bikemagazine Texto e imagens de Gabriel Vargas O Cycplus T2 é um smart trainer - rolo de treinamento digital totalmente interativo - do tipo di
Do Bikemagazine
Texto e imagens de Gabriel Vargas
O Cycplus T2 é um smart trainer – rolo de treinamento digital totalmente interativo – do tipo direct drive, em que a bike vai acoplada diretamente no rolo, removendo a roda traseira. O Bikemagazine recebeu uma unidade para avaliação diretamente do fabricante, que não tem representação ou importação formal no Brasil. Em caso de dúvidas, assistência técnica ou garantia, as ações devem ser feitas diretamente com a empresa, na China.
O fabricante sugere a aquisição do produto via loja oficial no Aliexpress. Na data desta publicação, o preço é de US$ 799 (R$ 3.267,85 no câmbio do dia 5 de abril de 2023), incluindo cassete de 11 velocidades, mais frete de R$1.149,66 para Campinas (SP).
Recebemos o rolo em novembro de 2022 e iniciamos os testes imediatamente. Adiante, veremos as características técnicas apresentadas pelo modelo, nossos métodos de avaliação e testes, as impressões percebidas durante o uso e demais considerações. Nossa avaliação também inclui um vídeo, que está no final do texto.
A Cycplus
Recebemos com certa curiosidade o contato inicial da Cycplus. Não conhecíamos a marca, e sabemos que desenvolver um produto tão complexo como um smart trainer não é tarefa fácil.
Segundo o site da Cycplus, a equipe é formada por jovens desenvolvedores oriundos da UESTC, uma universidade com foco em pesquisa nas áreas de tecnologia e eletrônica em Chengdu, na China. Após formarem a empresa Chengdu Chendian Ltd., em 2014, os primeiros produtos para ciclismo foram uma bomba de ar digital portátil e algumas opções de aparelhos GPS.
Em 2020, a Cycplus lançou o T1, seu primeiro smart trainer. Em 2021, veio o T2, um smart trainer com motor BLDC (motor elétrico acionado por corrente contínua sem escovas). O Cycplus T2 foi lançado por meio de um crowdfunding na plataforma Indiegogo, com a meta de arrecadar cerca de US$ 20 mil, mas só alcançou pouco mais de US$ 7 mil. Este é o modelo que recebemos para avaliação.
Foi-se o tempo em que fabricantes e fornecedores chineses eram de difícil acesso, com comunicação quase inexistente. Durante o processo de envio e obtenção de informações técnicas e comerciais, a equipe da Cycplus sempre se mostrou prontamente disponível e aberta para nossas dúvidas e questionamentos técnicos, alguns bem específicos.
Aparentemente, a marca tem investido bastante em divulgação para levar seus produtos ao mercado ocidental, inclusive com uma promoção de sorteio de rolos para ciclistas dos Estados Unidos, como vimos recentemente na página do Instagram da Cycplus.
Antes de avaliar o produto, já é possível dizer que a Cycplus transparece uma imagem madura e confiável enquanto empresa – o que é importante, já que seus consumidores irão empenhar alguns milhares de reais em um produto complexo e, embora robusto, também bastante delicado e sujeito a defeitos e outros problemas (assim como qualquer smart trainer, de qualquer fabricante).
Toda a experiência com a Cycplus nos deixou ainda mais curiosos para conhecer os demais produtos oferecidos pela marca.
Características técnicas e apresentação do produto
O Cycplus T2 agrada ao primeiro contato graças a um bom acabamento geral e qualidade na construção. As pernas em aço estendem-se amplamente em X, mas são facilmente dobradas e recolhidas para armazenamento. O processo de abrir ou dobrar pode parecer um pouco difícil na primeira tentativa, mas basta pegar o “jeito” das travas para logo conseguir manusear o equipamento com pouco esforço. As pernas e as travas permitem um ligeiro movimento lateral de 8 graus para tornar a pedalada mais natural.
A carcaça em plástico tem um visual retro-futurista, cujas formas lembram o monólito de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, enquanto a logomarca “T2” remete muito às identidades visuais dos Jogos Olímpicos dos anos 80 e 90, especialmente México 88.
Há um bonito disco de metal polido por trás do cassete, e as furações para ventilação possuem um visual harmônico e bem elaborado. Um leigo olharia para o rolo e certamente não saberia se aquilo se trata de um aparato musical, um instrumento científico, uma ferramenta altamente tecnológica ou mesmo algum tipo de troféu concebido por algum prêmio muito especial. Mas, sim, é um acessório esportivo feito para aguentar muitas horas sob muito esforço, e alguns respingos de suor!
A Cycplus informa que o T2 suporta potência máxima de 2.200 Watts e simula inclinações de até 15%, sem necessidade de calibração e com acurácia de +/- 1% na leitura da potência. O rolo é capaz de transmitir potência, velocidade e cadência (calculada via algoritmo) e possui conexões Bluetooth FTMS e ANT+ FE-C. Ou seja, totalmente interativo.
O produto é compatível com eixos de blocagem de 130 e 135mm, bem como eixos passantes de 12×142 e 12x148mm, com todos os adaptadores inclusos. O conjunto também vem com um cassete de 11 velocidades, 11-28, da marca Sunshine. Também estão inclusos um cabo de extensão USB, o Dongle adaptador ANT+, fonte de energia, manual e – uma bela surpresa – um bom e robusto tapete de borracha para forrar o piso sob o rolo e a bike! Um tapete semelhante custaria algo em torno de R$ no Brasil.
O rolo não possui um volante de inércia. Em outros rolos Smart do tipo direct drive, é comum encontrar volantes com 5, 6 quilos ou até mais. Esses volantes são aquelas rodas que giram em grande velocidade e ajudam a dar uma sensação mais natural na pedalada, tornando o movimento e a percepção mais parecidos com o ato de pedalar “de verdade”, na estrada ou na rua.
No lugar de um volante inercial, o T2 possui um motor de corrente contínua com 50 ímãs de neodímio que ativamente gira o sistema de roda livre em que se encaixa o cassete. Há somente um outro produto no mercado com essa tecnologia – o Tacx Neo 2T. Tal sistema permite que o rolo seja bem mais leve e compacto.
Segundo um especialista de dentro da indústria, este tipo de solução técnica reduz a dependência de hardware e aumenta as possibilidades de trabalhar o funcionamento e as características do produto via software. Ou seja: menos peças, menos manufatura, menos material; tudo isso substituído por programas e algoritmos que podem ser ajustados com relativa facilidade e que podem ser atualizados ou renovados à distância, via aplicativo.
Como veremos adiante, a adoção de tal tendência da indústria ao corpo do Cycplus T2 resultou tanto em sua maior vantagem como também em sua maior desvantagem. A ausência do volante realmente permitiu um rolo muito fácil de transportar e armazenar, mas a tentativa de simular a inércia de uma roda física por um motor controlado por software não foi uma experiência 100% satisfatória, como veremos na avaliação.
Avaliação
O rolo já vem totalmente pronto para ser utilizado com uma bike de estrada com gancheiras comuns de blocagem (130mm), inclusive com o cassete e a blocagem instalados. Basta liberar as travas e estender as pernas, encaixar a bike, fechar a blocagem e parear o rolo no dispositivo a ser utilizado.
Soubemos de relatos de usuários que tiveram problemas ao utilizar bikes de estrada com eixos passantes, possivelmente por causa da usinagem imprecisa dos adaptadores. Experimentamos, então, com uma bicicleta de estrada Cannondadle SuperSix EVO 2020, com freios a disco e eixos passantes 15×142, mas sem nenhum problema em relação à montagem.
Conexão
A ativação e pareamento do rolo é tão simples quanto sua montagem física. Não é necessário nenhum processo de calibração ou spin down – basta ligar na tomada (ou começar a pedalar, caso esteja utilizando sem fonte externa) e ele ativará as conexões Bluetooth e ANT+.
O pareamento com o computador, utilizando o Zwift e o adaptador ANT+ foi fácil, rápido e livre de problemas. Durante todo o teste, não houveram falhas de conexão ou qualquer imprevisto do tipo. O rolo é capaz de transmitir valores de cadência, que são aferidos via algoritmo por meio das oscilações de força em cada fase da pedalada. Como veremos nos gráficos das análises de potência, a leitura de cadência é extremamente confiável.
Gráfico 1. Legenda: Comparativo entre o Cycplus e o medidor de potência U2e em esforço livre (acima) e em treino estruturado com o modo ERG ativado (abaixo) – dados analisados via Zwiftpower.com
Potência: A precisão e confiabilidade dos dados de potência foi excelente. Todos os treinos foram realizados junto com o medidor de potência U2e no pedivela da bike. O U2e é um medidor que já avaliamos no Bikemagazine e se mostrou muito bem alinhado com Favero Assioma e Powertap. Há pequenas diferenças em potências muito altas durante acelerações agressivas e sprints, mas as médias de potência de trechos em geral ficou sempre muito próxima. A potência também se mostrou confiável mesmo após horas de treino e em diferentes temperaturas, com ou sem o ERG ativado.
Tabela 2- Legenda: Maiores médias em diferentes durações do Cycplus e do U2e em treino estruturado com o ERG ativado – dados analisados via Zwiftpower.com
Ruído: O rolo é ligeiramente mais ruidoso que outros modelos direct drive. O nacional Cyclotronics, por exemplo, é quase absolutamente silencioso, e praticamente só se ouve o som natural da transmissão. Já o T2 emite um sutil zunido durante o funcionamento, mas dificilmente é um ruído que supera o barulho da corrente transitando pelo cassete, coroas e roldanas. Além disso, claro, o Cycplus é extremamente mais silencioso que os tradicionais rolos wheel-on (com roda e pneu) ou os rolos soltos (de equilíbrio).
Realismo na pedalada e “road feel”: Em velocidades e cadências mais elevadas, o T2 cumpre bem sua função de simular a sensação de pedalar na estrada, mas há um problema em situações de maior torque, especialmente em baixas cadências e baixa velocidade virtual, como em subidas. Como o torque máximo suportado é de 45 Nm e não há um volante inercial físico, o rolo simplesmente patina ao aplicar forças no pedal que eventualmente resultam em torque excessivo no cassete, acima dos 45 Nm (ou 136 N de força).
Ou seja, o rolo não é capaz de “segurar” a força da pedalada nesses casos. Para se ter uma ideia, um ciclista pedalando a 80 rpm com pedivela 172.5 em uma subida virtual na marcha 36 (coroa) x 24 (cassete), que resulta em uma relação 1,5:1, o rolo irá patinar a meros 250 Watts.
Experiência eletrizante
Um problema conhecido do Cycplus T2, comentado em fóruns e reviews estrangeiros do produto, é a fuga de corrente elétrica do rolo e que percorre a bike, mas que é imperceptível ao ciclista. Infelizmente, não tivemos os recursos necessários para aferir a voltagem ou para avaliar as causas e possíveis consequências para o problema. O fabricante reconhece a questão e indica que a versão enviada para testes não apresenta tal fenômeno, embora pudemos notar a falha da tela touch capacitiva de um Garmin 830 – exatamente o mesmo sintoma que revelou o problema a outros usuários.
Veredito
O Cycplus T2 pode ser um forte candidato para quem procura um smart trainer fácil de transportar e armazenar, ou para quem deseja utilizar o equipamento sem fonte de energia externa. Por exemplo, ele funcionará para aquecer antes de provas (invés de levar um grande rolo solto, como é habitual) ou por qualquer outro motivo em que não exista acesso fácil a uma tomada.
Porém, nessa faixa de preço, e considerando a ainda inexistente representação oficial no Brasil, é difícil encontrar outras razões óbvias para que o T2 seja uma escolha melhor que a concorrência, além da portabilidade e praticidade no uso. A sensação de patinar ao pedalar em situações de torque elevado prejudicam a experiência para os usuários recorrentes de plataformas como o Zwift que encaram os percursos virtuais com muitas subidas.
Entre os pontos fortes do Cyplus T2, temos: o peso menor que de outros rolos do mesmo tipo (15kg, contra uma média de 20kg entre outros modelos); a facilidade de recolher as pernas e transportar pela alça; a possibilidade de ser usado sem conectar à rede elétrica e sem depender de baterias; não é necessário realizar nenhum procedimento de calibração; a medição de potência é confiável; o atendimento ao consumidor da Cycplus, mesmo distante fisicamente, parece ser bom; acompanha cassete, adaptadores de eixo e um bom tapete de borracha.
Já como pontos fracos, porém, temos: o feeling da pedalada em pé, em marchas mais leves ou em situações de alto torque não é bom, causando sensação de estar “patinando”; um pouco ruidoso; há dúvidas em relação à reposição de peças e manutenção no longo prazo, por não ter representação oficial no Brasil. Além disso, claro, há o estranho problema da fuga de corrente que interfere no uso de GPS com tela touch.